Pesquisar este blog

terça-feira, 29 de maio de 2012

A arte de pedir desculpas

Meu sonho era ter nascido meiga e light. Sabe aquelas pessoas que nunca perdem a paciência com ninguém/nada e são tão doces que você é incapaz de perceber quando estão bravas/desapontadas com alguém/alguma coisa? Pois é, queria ter nascido desse jeitinho.

Já passei centenas de dias imaginando as maravilhas de ser assim. Não brigar, não discutir, não me estressar, não perder um dia inflada de raiva... E mais: conseguir me poupar e não deixar que nada me afete. Sonho!

Só que além de ter nascido em uma família explosiva e estressada, ainda por cima sou ariana: impulsiva e brava por natureza (a cereja do bolo, eu sei)!

E aí que não apenas me irrito com as pessoas lerdas ou imprudentes no trânsito, com os seres que falam mal da gente pelas costas e com quem demora dez minutos pra dar o lead de uma história (ou seja, ir direto ao ponto!), como também sofro por me irritar com coisas tão pequenas e me acho idiota por sofrer tantas vezes de graça.

Por isso, precisei colocar em prática o Plano B. Sei que não é a mesma coisa que não se irritar e se poupar, mas já é alguma coisa. Se não sou capaz de controlar o gênio, preciso ser maravilhosa em pedir desculpas. E vi que isso eu sei fazer bem.

Como não sou orgulhosa, não é problema pedir desculpas (o buraco é mais embaixo: o problema é admitir que eu erro! Haha!). Brincadeiras à parte, sinto que encontrei um jeito de me livrar das saias-justas que minha impulsividade causa. Eu falo demais, mas pelo menos tenho coragem de me desculpar. Pode não ser a mesma coisa, mas ninguém é perfeito e foi essa a fórmula que descobri para “resolver” essa limitação.

Mas devo confessar que, apesar dessa mudança, sinto que, às vezes, a impulsividade é uma dádiva divina! Em tantos momentos ela é tão fundamental! Para se declarar a alguém, para ter coragem de dizer alguma coisa que ninguém se habilita a dizer, para entrar com tudo em um relacionamento, para arriscar e topar aquele emprego novo...

E quanto a ter boca grande e falar demais, preciso citar Clarice Linspector, que, com poucas palavras, é muito mais certeira do que eu. A frase dela vale muito no que diz respeito ao amor e às coisas do coração. Sabe quando você fala o que realmente sente e pensa e muitos a condenam por ter sido direta demais, por ter dito coisas que nunca devem ser ditas (por exemplo, te amo. Por exemplo, quero casar e ter filhos)?

Então, dá-lhe Clarice. “Por te falar eu te assustarei e te perderei? Mas se eu não falar, eu me perderei, e por me perder eu te perderia”.

segunda-feira, 28 de maio de 2012

Eu quero ser a Amélie Poulain

Foi amor à primeira vista. Identificação à primeira vista. Fascinação à primeira vista. O filme “O Fabuloso Destino de Amélie Poulain” me apresentou um mundo novo, lindo e mágico (sei que ele é velho, mas mesmo assim mexe comigo e rende crônica! Oras! Rs). Como não adorar uma moça que ajuda o destino a cumprir seu papel de fazer o mundo feliz?

O melhor é que ela opera em segredo e assim fica parecendo que foi mesmo Deus quem ouviu aquelas preces mais íntimas. Amélie ainda se diverte ao observar a reação de cada uma das pessoas com as “surpresas” organizadas por ela.

Além desse lado anjo da guarda, adoro como Amélie é feliz. Adoro as pequenas coisas que trazem prazer a ela, coisas que para muitos de nós parecem banais, pequenas, como, por exemplo, enfiar os dedos em um saco de grãos – e senti-los comprimir o indicador, escorregar pela mão, afundar com a pressão inesperada...

Talvez é por isso que me sinto tão bem ao assistir à Amélie. Ela me faz lembrar que a beleza da vida está nas pequenas coisas, nos pequenos gestos; que é preciso muito pouco para levar uma existência mais doce e amena; mas, principalmente, fica claro pelo filme que a diferença entre ser ou não feliz está em nossas mãos, depende apenas de nós.

E não há nada mais gratificante do que isso.

quinta-feira, 17 de maio de 2012

O casamento é para todos

Por João Pereira Coutinho

Tenho pensado ultimamente nas vantagens da poligamia. O amor exige fidelidade e exclusividade?

Admito que sim. E também admito que existe uma certa nobreza na velha ideia platônica de que somos seres incompletos, em busca da outra metade que nos falta. Os românticos não inventaram nada. Limitaram-se a ler "O Banquete".

Mas, por outro lado, não é justo, nem fácil, nem humanamente possível exigir de uma mulher que ela seja tudo e o seu contrário. Boa amante. Ótima confidente. Excelente dona de casa. Mãe aprumada. Parceira intelectual distinta. Enfermeira nas horas funestas.

A mulher perfeita não existe. Ou, melhor dizendo, ela existe, sim. Só que é composta por várias mulheres distintas.

Anos atrás, em viagem pelo Marrocos, visitei um amigo que me levou a conhecer as suas duas famílias: uma em Casablanca, a outra em Agadir.

A primeira mulher era a encarnação perfeita da sensualidade magrebina – olhos negros, cabelo idem, lábios generosos e carnudos. Cinco minutos bastaram para perceber a função daquela senhora na vida daquele homem feliz.

A segunda mulher era menos exuberante (digamos assim); mas fazia um cuscuz como só voltei a provar em viagem recente ao Nordeste do Brasil. Tão diferentes, mas tão complementares.

Fiquei convencido sobre as vantagens do arranjo. E antes que a leitora me acuse de machismo obscurantista, esclareço já: quem fala em poligamia fala em poliandria.

Nenhum homem pode ser tudo para uma só mulher. Por isso esperava um pouco mais das declarações de Barack Obama sobre o casamento gay – mais do que apenas "hélas" sobre o casamento gay.

O presidente americano, em gesto inédito para ano eleitoral, disse na televisão que "evoluiu" sobre o assunto. É agora favorável à união matrimonial de lésbicas e homossexuais, embora deixe para os Estados a decisão final sobre o assunto.

O raciocínio de Obama é conhecido: quem somos nós, a maioria heterossexual e opressora, para negar a felicidade a duas pessoas do mesmo sexo que querem se casar?

Eis, em resumo, a essência do pensamento progressista. Um pensamento que os filósofos Sherif Girgis, Robert P. George e Ryan T. Anderson analisaram no melhor ensaio que conheço sobre o tema: "What is Marriage?".

O casamento, para o pensamento progressista, é uma mera construção social, sem uma história ou um propósito distintos. O casamento deve apenas basear-se no afeto; e basta que exista afeto entre dois seres humanos adultos para que o Estado reconheça o vínculo matrimonial, distribuindo direitos e deveres pelos cônjuges.

O problema, escrevem os autores do ensaio, é que essa definição sentimental de casamento não pode se limitar a lésbicas e homossexuais.

Se o casamento pode ser tudo o que quisermos, não há nenhum motivo para recusar o privilégio a um homem que queira se unir a várias mulheres. Ou a uma mulher que queira se unir a vários homens.

O próprio Obama deveria saber disso: só nos Estados Unidos, é possível que existam mais de 500 mil relações poligâmicas, informava há tempos a revista "Newsweek", citada no ensaio. O número de homossexuais que desejam casar-se é superior a esse número?

Talvez. Mas falamos de um princípio, não de uma questão numérica: se 500 mil relações poligâmicas vivem à margem da lei, não devemos também respeitar a felicidade – no fundo, o "afeto" dessa vasta legião de apaixonados?

Por mim, ficaria encantado. Até porque as relações poligâmicas não vivem apenas à margem da lei. Elas são punidas pela lei. Eu invejo o meu amigo marroquino. Mas, se pretendesse imitar o seu modo de vida, casando-me com duas donzelas da minha preferência, a Justiça não perdoaria o crime.

Moral da história? O mundo não acaba com os direitos dos homossexuais. E não é possível defender o casamento gay sem defender também todas as outras formas de união conjugal. Abrir uma exceção é abrir todas as exceções. Negar isso é perpetuar a intolerância.

Espero que o presidente Obama continue a "evoluir" sobre o assunto e nos brinde em breve com a defesa apaixonada que a poligamia merece.

domingo, 13 de maio de 2012

Mães

Oi, queridos! Desculpem-me pelo sumiço. Ando sem inspiração para escrever sobre relacionamentos!

A verdade é que, uma vez fora do mundo das baladas, faltam histórias para preencher estas páginas! Pelo menos, de forma original e divertida!

Hoje, peço licença para fugir um pouco ao tema principal.

Dia das Mães é sempre uma data muito especial. Dia de agradecer imensamente àquelas que nos colocaram neste mundo, que nos ensinaram a rir e a chorar e que nos mostraram um caminho melhor para encontrar a felicidade. Sou muito grata à minha mãe por tudo que ela sempre fez por mim - e continua fazendo. Não acho que poderia ter sido abençoada com uma mãe "melhor". Ela é perfeita para o que preciso! E foi ela quem me mandou este texto (deveria ter sido o contrário, eu sei! Mas ela é assim). Que possamos nos inspirar nestas palavras para sermos também o melhor para nossos filhos! Um beijo e bom domingo!

"Lá vai minha filha...

A menina que estreou a mãe em mim. A menina que chegou trazendo todo um universo de novidades: emoções, medos, encantamentos e aprendizados.

Carne da minha carne, fruto do meu amor, sonho dos meus sonhos. Ela me expandia e eu a protegia. Ela me dava a mãe e eu todos os sumos. Ela me dava a eternidade e eu lhe dava asas.

Ela me alargava o coração coraçäo e eu lhe ensinava a caminhar sozinha. Ela me cobria de beijos e eu a cobria de bênçäos. Ela me pedia colo e eu lhe pedia sorrisos. Ela me traduzia e eu a decifrava. Ela me ensinava e eu lhe descortinava o mundo. Ela me apontava o novo e eu lhe ensinava liçöes aprendidas no passado.

Ela me falava de fadas e princesas e eu lhe falava de avós e gentes. Ela me emprestava seus olhos encantados e eu rezava por um mundo melhor. Ela me tirava o sono e eu cantava para ela dormir. Ela me alegrava a vida e eu vivia para ela.

Quando o filho nasce, começamos a nos despedir dele no mesmo instante. Nosso elo só é enquanto no ventre. Depois, somos seus abrigos, condutores, provedores, sem nunca esquecer que eles começam a ir embora no dia em que nascem. No começo, o tempo parece parar. A plenitude da maternidade e a dependência dos pequenos criam uma ilusäo de que será assim para sempre.

Mas näo, eles crescem inexoravelmente em direçäo à independência. Cumpre-se o ciclo da vida. Na hora que nasce o primeiro filho, a gente compreende a fragilidade da vida, a fugacidade das coisas e passa a ter medo de morrer. O fato dela precisar de mim me torna única e imprescindível. Eu não podia falhar. A partir dali, tudo mudou, meu espaço, meu papel, minha relaçäo com o mundo. Às vezes me pergunto se eu dei a ela tanto quanto recebi.

Sinceramente, acho que não. Desde o momento zero, ela transformou minha vida e, em um movimento contínuo, faz de mim uma pessoa melhor. Lá vai minha filha apaixonada e confiante. Ensaiando voos, escolhendo caminhos, encerrando ciclos. Eu, feliz, penso: cumpra-se!"