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terça-feira, 15 de dezembro de 2015

Pelo direito de ser quem se é

Parece meio óbvio esse título, né? Defender que toda e qualquer pessoa tenha o direito de ser como é, de verdade, sem ter que fingir coisa alguma. Mas, na prática, é tão, tão difícil. Por que, hein?

Antes de ser quem eu sou (botar para jogo meu eu verdadeiro), levei um tempão só para descobrir quem sou. Do que gosto, o que quero, com o que sonho, o que repudio. Quais são meus piores defeitos? E quais as melhores qualidades, aquelas que dão orgulho? Quais meus limites? O que topo e o que não topo de maneira alguma? O quanto estou disposta a sacrificar para conquistar certas coisas? Enfim, todas as milhões de perguntas que nos fazemos, ao longo da vida, simplesmente para nos conhecer melhor.

Aí, vem a parte mais difícil, que é colocar tudo isso em prática. E foi então que eu vi como custa bancar quem se é.

Primeiro, existe a autossabotagem. Você promete para si mesma que vai agir de tal maneira em determinada situação, mas, na hora, por medo, insegurança ou sabe-se lá por qual motivo, deixa a coisa degringolar. Já passei por isso inúmeras vezes. Perdi as contas de quantas vezes chorei ou lamentei por não ter respeitado um limite que era tão sagrado para mim.

Por exemplo, digamos que você tem uma amiga que vive pegando suas roupas emprestado - e nunca as devolve ou as devolve em condições deterioradas. No início, você surta por dentro, mas fica calada. Afinal, não quer desagradar a amiga (pior: sente que precisa dela, desse afeto). Depois, promete, na frente do espelho, que nunca mais vai emprestar nada. Só que ela se faz de vítima e você cede. E cede tanto, mas tanto, que no final nem tem mais forças para reagir - e, quando sente raiva ao ver as roupas puídas, pune-se por ser tão egoísta.

Há ainda os casos mais graves. A esposa que apanha do marido. E que vive prometendo deixá-lo, denunciá-lo ou outra coisa semelhante, mas nunca faz nada. Sujeita-se apenas. Quase se conforma. E com isso vai se matando aos pouquinhos por dentro (pode ser que exploda e revide; pode ser que fique doente. Só sei que alguma consequência tem. Claro! São dias, meses, anos atropelando seus sentimentos. Um dia a coisa entorna mesmo.).

E não tem jeito mesmo. Você aprende errando.

Em alguns casos, voltei atrás na minha palavra duas, três, dez vezes, até que a coisa chegasse a um grau tão estressante que fui obrigada, por motivos de sanidade mental, a respeitar meu limite - coisa que queria fazer desde o início, mas não sabia como me impor.

Segundo, existe a sabotagem alheia, que, na minha opinião, é a pior de todas. Você deixa de ser como é por conta dos outros. Porque quer tanto ser amada, respeitada, valorizada, elogiada que passa por cima do que for preciso por um afago. É aquele desespero para ser aceita.

Só que isso, minha amiga, é um buraco sem fundo. Não existe isso de "boa o suficiente". As pessoas sempre querem mais.

Elas estão lá, cheias de defeitos, mas o que importa é o quanto os outros precisam melhorar, precisam mudar. O que vale é apontar o dedo na cara do outro e fazê-lo sentir que aquilo que ele é não é bom o suficiente. E aí você junta suas próprias inseguranças com as críticas de terceiros e tem a combinação perfeita para o fracasso e para abandonar tudo em que acredita - até mesmo para desistir de ser quem você verdadeiramente é.

Eu tenho toneladas de defeitos. Poderia passar os próximos dias, meses e, quem sabe, anos, listando-os. Pode até ser que, feita uma pesquisa, fique comprovado por A + B que minha lista é bem mais longa do que a média - ou que meus defeitos são bem mais graves do que os dos demais. Não importa.

O que importa é que essa sou eu. Ou que essa estou eu (já que estamos sempre mudando). E eu tenho orgulho de ser quem sou, pacote completo. O que não quer dizer que não faço um trabalho diário para atenuar meus defeitos. Por exemplo, ser mais paciente, menos reativa, menos agressiva. Há muitos, muitos anos, luto contra certas posturas que me são naturais. Que brotam espontaneamente. Mas é uma luta - e como toda luta, há dias piores e dias melhores.

Acho o máximo quem não se mete em briga, quem sempre se mantém sereno frente a toda e qualquer situação, quem não discute por política, não chora quando o time sofre uma goleada, não perde a linha com uma cantada ofensiva. Só que essa pessoa não sou eu.

Eu sou única, complexa, caótica. Como talvez todos sejam. E eu quero aprender a me aceitar, exatamente como sou.

Estou cansada de ver dedos apontados para mim me dizendo como eu deveria ser. O que preciso mudar. De que maneira devo me comportar. Afinal, eu, mais do que ninguém, conheço meus defeitos. Mas a vontade de mudar deve partir de dentro da gente - e não vir de fora, tipo receita de bolo. Caso contrário, não produz resultado algum.

Cada qual sabe melhor o que traz felicidade e o que traz dor. Cada um sabe o preço a pagar por determinados comportamentos - e, se não sabe, a vida ensina.

Tenho certeza de que não vim a este mundo para ser a filha que a minha mãe espera; ou a companheira que minhas irmãs desejam; ou a parceira que minhas amigas sonham ter ao lado. Eu vim para me desvendar, me revirar do avesso - e a partir daí crescer, melhorar, mudar, aperfeiçoar, evoluir. Gostaria muito, nesta jornada, de ter caminhando comigo pessoas que me apoiam, que acreditam em mim, que respeitam/toleram o meu eu - e quero distância de quem me faz sentir pequena, pior, incapaz.

Mas, por mim, preciso prometer que não vou pagar qualquer preço por esse afeto. O que os outros pensam de mim não pode ser maior do que o que eu penso sobre a minha pessoa. Não quero aquele amor que diminui, aquele amor que julga, aquele amor que despreza.

Hoje, para mim, a grande lição da vida é aprender a me amar (e me respeitar) do jeitinho que sou. Não é me amar apesar dos defeitos, mas sim pelos defeitos. Que são meus, que representam uma parte importante desse incrível quebra-cabeças que sou eu. Quero ter orgulho de mim mesma e não mais sentir vergonha das minhas falhas.

5 comentários:

Unknown disse...

Vc traz ao "ame aos outros como a si mesmo" um significado totalmente novo... porque muitas vezes amamos mal ou somos mal amados justamente porque nos amamos mal; ou porque os que nos ferem se amam mal... amar a si mesmo é condição primeira e primária para se amar o outro... mas o fim do amor é sempre esse, que o amor a si mesmo não se transforme em hedonismo ou orgulho, mas que gere frutos em todos à nossa volta. É custoso, passa-se uma vida tentando ser amado por outros, e só lá na frente descobrimos que o amor que buscamos no outro precisa vir de nós mesmos... pra que abusos não aconteçam, pra que expectativas não sobrevenham e com elas as inevitáveis decepções. texto corajoso, belo e sincero. E principalmente verdadeiro.

Mari Abreu disse...

Muito obrigada pelo seu comentário. É exatamente isso. Tão importante se amar, mas tão difícil. Só sei que quero fazê-lo. Virou minha meta de vida, desafio pessoal. Um beijo carinhoso.

Anônimo disse...

Eu gosto do jeito que vc pensa, gosto também dos seus cabelos ruivos,da sua nova foto do perfil do Facebook...

Continue escrevendo.

Mari Abreu disse...

Obrigada, Anônimo! Seja lá quem você for!

Anônimo disse...

Disponha...

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