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segunda-feira, 23 de maio de 2011

O Primeiro Sutiã

É mesmo uma graça aquele comercial do Washington Olivetto sobre o primeiro sutiã. Simples e de bom gosto – ainda mais quando consideramos que tem 21 anos de vida.

Quando ele foi ao ar, eu estava com dez anos, idade de ter/comprar o meu primeiro sustentador. Mas eu não me identifiquei nem um pouco com a campanha. Quê? Colocar um sufocador naqueles já doloridos caroços, criar volume extra, ficar com a frente estufada? Tô fora! Não conseguia entender a felicidade da garota da propaganda, nem nunca entendi aquele papo de “que lindo que estamos virando mocinha”. Para mim, o primeiro sutiã representava o início do fim.

É que, na minha cabeça, os meninos eram os melhores parceiros do mundo! Nos esportes, claro. Eu não tinha nenhum outro interesse neles – até alardeava que, se um deles me beijasse, eu cuspiria ou vomitaria na cara deles. Honestamente, só eles tinham o pique, a disposição, a força e a precisão necessários. As mulheres eram, quase todas, um poço de frescura, fragilidade, medo e despreparo e eu, definitivamente, não me encaixava naquele perfil. Eu era forte, agressiva, destemida.

O nascimento dos meus seios foi um marco. Um marco ruim. Pelo menos naquela época... Aqueles caroços, além de provocarem uma dor infinita, significavam que eu não fazia parte do grupo dos meninos, que era diferente deles e, que a partir de então, seria tratada de forma diferente, com certo deferimento, e não mais como “um de nós”. Os caras pararam de me dar cotoveladas, rasteiras, empurrões...

Sofri a dor de duas decepções simultâneas. Por um lado, a dor física daquela acne que nunca estourava, daquele calo permanente, daquele furúnculo eterno (pior ainda quando minha vizinha os apertava toda contente, celebrando minha feminilidade – eu tinha vontade de esmurrá-la todas as vezes). Por outro lado, a dor emocional da separação, do fim de uma parceria bem-sucedida, do ponto final daquela história.

Então, como comemorar a “chegada” do primeiro sutiã? Ele reafirmava meu lado feminino, arregaçava o fato de eu ser diferente dos garotos, me inseria em um mundo de fragilidades com o qual não estava acostumada. Deve ser por isso que sequer me lembro do pobre coitado.

Para piorar, o primeiro sutiã de que me lembro, lindo de viver, foi parar no lixo, antes mesmo de eu ter a chance de experimentá-lo (quem sabe ele me faria dançar de felicidade na frente do espelho, como fez com a mocinha da TV?). Minha irmã caçula estava com ele no dia em que sofreu um acidente. No hospital, os médicos o rasgaram assim, de cara, sem chances para consertos ou reparos.

Conclusão. Eu não me lembro do meu primeiro sutiã e, daquele de que me lembro, melhor mesmo seria esquecê-lo! E foi assim que os sutiãs permaneceram como simples trapos que me separavam do divertido mundo masculino.

5 comentários:

Zethi disse...

Texto fantástico, meu amor. Beijos!

Sheyla disse...

Nossa, amiga, que traumático! Comigo tb rolou essa "separaçao forçada" com os meninos, começando com o coitado do meu irmão q nao entendia pq eu nao queria mais brincar de golzinho com ele! Pense eu no gol levando uma bolada!afff! Mas eu me lembro bem do meu primeiríssimo sutia q mamis me deu - um amarelinho da Triumph! Aliás, foram 2 - o famigerado bege já veio no pacote! hehehehe Mas nao foi uma cena nada liiiinda como a do comercial...

Katrine disse...

O meu era azul e tinha bolinhas brancas. Não foi tão traumático usá-lo... Acho até que gostei. Mas que aqueles "carocinhos" doíam, ah isso doíam! Bjs

CRISTINA STUCKERT disse...

Amiga, texto maravilhoso! Eu não me lembro do meu primeiro sutiã...rsrsrsrsrs...bjs

Anônimo disse...

o meu foi inesquecivvel

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