Você precisa casar. Ter um marido que a sustente, que cuide de você. Ter um lar (ou, ao menos, um teto onde morar). Precisa ter filhos (quem sabe uns três ou quatro?) e cumprir o papel designado à mulher desde que os tempos são tempos. Ser fiel a essa missão arquitetada por Deus ou pela genética.
Precisa cuidar da casa, limpar, lavar e passar a roupa. Precisa cozinhar pratos balanceados e saudáveis para alimentar sua nova família e educar bem os meninos.
Precisa também se cuidar, mas sem gastar muito - que o marido reclama. Depile em casa, faça a própria unha (não sabe? Aprenda), arrume seu cabelo - ainda que, para isso, seja preciso correr risco de vida ao passar o ferro quente na cabeleira só para deixá-lo como o seu homem gosta.
Também precisa comer pouco e ficar sempre de olho na balança. É fundamental manter a cintura fina e as malditas celulites sob controle.
Precisa ser sensual, sem ser safada; atraente, sem ser vulgar ou chamar muito a atenção; estar sempre disposta para receber com um sorriso qualquer investida do seu marido - ninguém aguenta mais esse papinho de dor de cabeça.
Precisa ser simpática na medida, extrovertida com moderação, paciente à beça e compreensiva, muito compreensiva - não vê que atazanar o marido só porque ele chega tarde vários dias da semana é coisa de mulher cri cri? Não faça perguntas.
Mais importante, você precisa saber perdoar.
Como assim, você não quer esse mar de rosas? O quê? Prefere ficar sozinha? Coitada. Então vá. Seja uma solteirona. Encalhada. Mal amada. Frígida. Fresca, chata, reclamona. Vire alvo de críticas, acostume-se com os dedos apontando em sua direção - nem adianta esbravejar; os dedos em riste virão.
Acostume-se também a ouvir de conhecidos (e de completos estranhos) discursos ensaiados sobre como agora você sobrou, de que só com muita sorte alguém vai escolhê-la. O que será da sua vida sem filhos? Como serão seus domingos sem um marido ao lado? Que pena, pena de você.
...
Você pode não casar. Não ter um marido para chamar de seu. Não fazer o impensável só para conseguir aquela aliança dourada no dedo anelar da mão esquerda. E pode até não ter filhos. Isso, nenhum filho. Zero.
Pode sair com as amigas para paquerar. Demonstrar interesse pelo gatinho da balada. Ou chamar aquele colega de trabalho para sair - pode até mesmo ficar com aquela menina do outro setor.
Pode viajar o mundo (sozinha). Pode viver experiências inesquecíveis. Pode morar fora, fazer curso de polonês, gastar seis meses num mochilão pela Ásia.
Pode encher a cara de vinho em plena segunda-feira ou se divertir sozinha em casa, no sábado à noite, vendo filmes eróticos.
Pode decidir amar seu corpo como é. Gordinha ou magrinha. Durinha ou flácida. Pode rir de seus seios caídos, resultado da idade, e ainda assim decidir que quer ficar com eles - nada de cirurgia. Pode fotografar na memória suas rugas e curtir as marcas do tempo.
Pode levar para a cama quantos homens quiser. Ou negar a eles acesso ao seu território sagrado.
Pode desejar um companheiro ou permanecer sozinha. Afinal, você não quer qualquer um. Quer alguém especial. Quer um relacionamento de verdade. Detesta relações protocolares. De qualquer espécie.
Pode até ter filhos sozinha. Um, dois, quantos você quiser. E pode ensinar a eles que rosa e azul são apenas duas das muitas cores à disposição deles.
Tudo bem. Não quer dizer que, se fizer isso aí, vai ser recebida com aplausos. Muitos vão julgá-la, olhar torto para você, criticar duramente suas decisões. Vão falar de você pelas costas e rir do seu aparente desespero.
Vão querer apresentá-la para qualquer amigo - maconheiro, machista, preconceituoso. E vão fazer de tudo para enquadrá-la naquela velha história mencionada lá no início.
Estar sozinha (e não ter filhos, por exemplo) ainda deixa muita gente desconfortável. E é certeza de apuros para quem assume essa posição.
Mas, ah, estar sozinha é também uma oportunidade incrível. De se conhecer a fundo, cada rincão, cada pensamento. Você passa a entender cada riso, cada lágrima. Aprende a se respeitar e a exigir respeito - ainda que, às vezes, você mesma falhe nessa missão.
Você se abre para a vida. Liberta-se de preconceitos e renova as lentes com que vê o mundo.
Aprende, aprende muito.
Por exemplo, entende que a felicidade está aí, na nossa cara, esperando ser encontrada e desfrutada, e que não é preciso marido ou filho para que ela dê as caras. Aprende que o sorriso vem mais fácil do que se imagina e que o amor está em toda parte - na família, nos sobrinhos, entre amigos.
Não ligue para quem diz que estar sozinha é o mesmo que detestar os homens. Ou que estar sozinha é sinônimo de amargura. Estar sozinha nada mais é do que se dar prioridade e se permitir sonhar e conquistar tudo o que quiser - sem precisar ceder a velhas regras impostas.
Que solteirona, que nada! Quem está sozinha por decisão é uma bela duma solteiraça - com direito a todos os superlativos positivos imagináveis.
domingo, 10 de abril de 2016
De solteironas a solteiraças
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1 comentários:
CAsa comigo!?
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