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domingo, 10 de abril de 2016

De solteironas a solteiraças

Você precisa casar. Ter um marido que a sustente, que cuide de você. Ter um lar (ou, ao menos, um teto onde morar). Precisa ter filhos (quem sabe uns três ou quatro?) e cumprir o papel designado à mulher desde que os tempos são tempos. Ser fiel a essa missão arquitetada por Deus ou pela genética.

Precisa cuidar da casa, limpar, lavar e passar a roupa. Precisa cozinhar pratos balanceados e saudáveis para alimentar sua nova família e educar bem os meninos.

Precisa também se cuidar, mas sem gastar muito - que o marido reclama. Depile em casa, faça a própria unha (não sabe? Aprenda), arrume seu cabelo - ainda que, para isso, seja preciso correr risco de vida ao passar o ferro quente na cabeleira só para deixá-lo como o seu homem gosta.

Também precisa comer pouco e ficar sempre de olho na balança. É fundamental manter a cintura fina e as malditas celulites sob controle.

Precisa ser sensual, sem ser safada; atraente, sem ser vulgar ou chamar muito a atenção; estar sempre disposta para receber com um sorriso qualquer investida do seu marido - ninguém aguenta mais esse papinho de dor de cabeça.

Precisa ser simpática na medida, extrovertida com moderação, paciente à beça e compreensiva, muito compreensiva - não vê que atazanar o marido só porque ele chega tarde vários dias da semana é coisa de mulher cri cri? Não faça perguntas.

Mais importante, você precisa saber perdoar.

Como assim, você não quer esse mar de rosas? O quê? Prefere ficar sozinha? Coitada. Então vá. Seja uma solteirona. Encalhada. Mal amada. Frígida. Fresca, chata, reclamona. Vire alvo de críticas, acostume-se com os dedos apontando em sua direção - nem adianta esbravejar; os dedos em riste virão.

Acostume-se também a ouvir de conhecidos (e de completos estranhos) discursos ensaiados sobre como agora você sobrou, de que só com muita sorte alguém vai escolhê-la. O que será da sua vida sem filhos? Como serão seus domingos sem um marido ao lado? Que pena, pena de você.

...

Você pode não casar. Não ter um marido para chamar de seu. Não fazer o impensável só para conseguir aquela aliança dourada no dedo anelar da mão esquerda. E pode até não ter filhos. Isso, nenhum filho. Zero.

Pode sair com as amigas para paquerar. Demonstrar interesse pelo gatinho da balada. Ou chamar aquele colega de trabalho para sair - pode até mesmo ficar com aquela menina do outro setor.

Pode viajar o mundo (sozinha). Pode viver experiências inesquecíveis. Pode morar fora, fazer curso de polonês, gastar seis meses num mochilão pela Ásia.

Pode encher a cara de vinho em plena segunda-feira ou se divertir sozinha em casa, no sábado à noite, vendo filmes eróticos.

Pode decidir amar seu corpo como é. Gordinha ou magrinha. Durinha ou flácida. Pode rir de seus seios caídos, resultado da idade, e ainda assim decidir que quer ficar com eles - nada de cirurgia. Pode fotografar na memória suas rugas e curtir as marcas do tempo.

Pode levar para a cama quantos homens quiser. Ou negar a eles acesso ao seu território sagrado.

Pode desejar um companheiro ou permanecer sozinha. Afinal, você não quer qualquer um. Quer alguém especial. Quer um relacionamento de verdade. Detesta relações protocolares. De qualquer espécie.

Pode até ter filhos sozinha. Um, dois, quantos você quiser. E pode ensinar a eles que rosa e azul são apenas duas das muitas cores à disposição deles.

Tudo bem. Não quer dizer que, se fizer isso aí, vai ser recebida com aplausos. Muitos vão julgá-la, olhar torto para você, criticar duramente suas decisões. Vão falar de você pelas costas e rir do seu aparente desespero.

Vão querer apresentá-la para qualquer amigo - maconheiro, machista, preconceituoso. E vão fazer de tudo para enquadrá-la naquela velha história mencionada lá no início.

Estar sozinha (e não ter filhos, por exemplo) ainda deixa muita gente desconfortável. E é certeza de apuros para quem assume essa posição.

Mas, ah, estar sozinha é também uma oportunidade incrível. De se conhecer a fundo, cada rincão, cada pensamento. Você passa a entender cada riso, cada lágrima. Aprende a se respeitar e a exigir respeito - ainda que, às vezes, você mesma falhe nessa missão.

Você se abre para a vida. Liberta-se de preconceitos e renova as lentes com que vê o mundo.

Aprende, aprende muito.

Por exemplo, entende que a felicidade está aí, na nossa cara, esperando ser encontrada e desfrutada, e que não é preciso marido ou filho para que ela dê as caras. Aprende que o sorriso vem mais fácil do que se imagina e que o amor está em toda parte - na família, nos sobrinhos, entre amigos.

Não ligue para quem diz que estar sozinha é o mesmo que detestar os homens. Ou que estar sozinha é sinônimo de amargura. Estar sozinha nada mais é do que se dar prioridade e se permitir sonhar e conquistar tudo o que quiser - sem precisar ceder a velhas regras impostas.

Que solteirona, que nada! Quem está sozinha por decisão é uma bela duma solteiraça - com direito a todos os superlativos positivos imagináveis.

sexta-feira, 29 de janeiro de 2016

Selvageria

Sério. Sinto-me em um safari nível avançado, mesmo estando em Brasília, a um mar da África do Sul.

Por algum motivo que desconheço, aqui os "animais" não se comportam como deveriam. Por exemplo, não caçam apenas quando têm fome e não descansam quando saciados. Eles estão em guerra não declarada (ou eu que não fui avisada). É um vale tudo.

Sentem-se constantemente famintos, raivosos, mal-humorados. Usam táticas baixas e sorrateiras, atacam na surdina e não aceitam perder batalha alguma.

E você, de repente, descobre que é "caça", do tipo mais ralé, bagulho, quase mixaria.

Pelo menos, é o que parece.

Falta respeito. Noção. Educação.

Não digo que todos os caras são assim, longe de mim, mas o nível de grosseria é tão grande, às vezes, que você fica com medo de sair da toca.

Eu sei que esse papo nostálgico é chato até, mas, honestamente, não me lembro desse nível de selvageria quando era mais nova, lá pelos meus 18, 20 anos.

Será que esses caras foram maltratados pelos pais? Será que foram abandonados por quem mais amavam? Traídos, alvos de chacota? Sei lá, acho que nem isso justifica.

Explico-me.

Rolou um convite para um jantar. A pessoa parecia bacana, decente. Tinha referências, amigos em comum. Fui.

A noite estava joia; o papo, legal; a comida, divina (o vinho também). Rolaram risadas. Espontâneas. E eu fui relaxando.

Já na garagem, a caminho do carro, uma "observação" pré-bomba: Sabia que acho lindo meninas branquinhas?

Bom, entendi que era um elogio, afinal, sou branca.

Não quis parecer metida, nem nada, então falei: Sério? Normalmente, os brasileiros acham mais bonito menina com a pele bronzeada...

Aí, o ataque.

"Ah, adoro chupar um peitinho branco."

Diz aí o que você faria, porque eu quase desmaiei.

E então veio a raiva e a vontade de ter respondido algo baixo e horrível, à altura. Ou de dar uma voadora na cara dele.

Por último, a vontade de chorar. Que pessoa é essa? Que agressividade, desrespeito! Que falta de trato e noção. Que medo.

E eu me esforçando para me desarmar...

terça-feira, 15 de dezembro de 2015

Pelo direito de ser quem se é

Parece meio óbvio esse título, né? Defender que toda e qualquer pessoa tenha o direito de ser como é, de verdade, sem ter que fingir coisa alguma. Mas, na prática, é tão, tão difícil. Por que, hein?

Antes de ser quem eu sou (botar para jogo meu eu verdadeiro), levei um tempão só para descobrir quem sou. Do que gosto, o que quero, com o que sonho, o que repudio. Quais são meus piores defeitos? E quais as melhores qualidades, aquelas que dão orgulho? Quais meus limites? O que topo e o que não topo de maneira alguma? O quanto estou disposta a sacrificar para conquistar certas coisas? Enfim, todas as milhões de perguntas que nos fazemos, ao longo da vida, simplesmente para nos conhecer melhor.

Aí, vem a parte mais difícil, que é colocar tudo isso em prática. E foi então que eu vi como custa bancar quem se é.

Primeiro, existe a autossabotagem. Você promete para si mesma que vai agir de tal maneira em determinada situação, mas, na hora, por medo, insegurança ou sabe-se lá por qual motivo, deixa a coisa degringolar. Já passei por isso inúmeras vezes. Perdi as contas de quantas vezes chorei ou lamentei por não ter respeitado um limite que era tão sagrado para mim.

Por exemplo, digamos que você tem uma amiga que vive pegando suas roupas emprestado - e nunca as devolve ou as devolve em condições deterioradas. No início, você surta por dentro, mas fica calada. Afinal, não quer desagradar a amiga (pior: sente que precisa dela, desse afeto). Depois, promete, na frente do espelho, que nunca mais vai emprestar nada. Só que ela se faz de vítima e você cede. E cede tanto, mas tanto, que no final nem tem mais forças para reagir - e, quando sente raiva ao ver as roupas puídas, pune-se por ser tão egoísta.

Há ainda os casos mais graves. A esposa que apanha do marido. E que vive prometendo deixá-lo, denunciá-lo ou outra coisa semelhante, mas nunca faz nada. Sujeita-se apenas. Quase se conforma. E com isso vai se matando aos pouquinhos por dentro (pode ser que exploda e revide; pode ser que fique doente. Só sei que alguma consequência tem. Claro! São dias, meses, anos atropelando seus sentimentos. Um dia a coisa entorna mesmo.).

E não tem jeito mesmo. Você aprende errando.

Em alguns casos, voltei atrás na minha palavra duas, três, dez vezes, até que a coisa chegasse a um grau tão estressante que fui obrigada, por motivos de sanidade mental, a respeitar meu limite - coisa que queria fazer desde o início, mas não sabia como me impor.

Segundo, existe a sabotagem alheia, que, na minha opinião, é a pior de todas. Você deixa de ser como é por conta dos outros. Porque quer tanto ser amada, respeitada, valorizada, elogiada que passa por cima do que for preciso por um afago. É aquele desespero para ser aceita.

Só que isso, minha amiga, é um buraco sem fundo. Não existe isso de "boa o suficiente". As pessoas sempre querem mais.

Elas estão lá, cheias de defeitos, mas o que importa é o quanto os outros precisam melhorar, precisam mudar. O que vale é apontar o dedo na cara do outro e fazê-lo sentir que aquilo que ele é não é bom o suficiente. E aí você junta suas próprias inseguranças com as críticas de terceiros e tem a combinação perfeita para o fracasso e para abandonar tudo em que acredita - até mesmo para desistir de ser quem você verdadeiramente é.

Eu tenho toneladas de defeitos. Poderia passar os próximos dias, meses e, quem sabe, anos, listando-os. Pode até ser que, feita uma pesquisa, fique comprovado por A + B que minha lista é bem mais longa do que a média - ou que meus defeitos são bem mais graves do que os dos demais. Não importa.

O que importa é que essa sou eu. Ou que essa estou eu (já que estamos sempre mudando). E eu tenho orgulho de ser quem sou, pacote completo. O que não quer dizer que não faço um trabalho diário para atenuar meus defeitos. Por exemplo, ser mais paciente, menos reativa, menos agressiva. Há muitos, muitos anos, luto contra certas posturas que me são naturais. Que brotam espontaneamente. Mas é uma luta - e como toda luta, há dias piores e dias melhores.

Acho o máximo quem não se mete em briga, quem sempre se mantém sereno frente a toda e qualquer situação, quem não discute por política, não chora quando o time sofre uma goleada, não perde a linha com uma cantada ofensiva. Só que essa pessoa não sou eu.

Eu sou única, complexa, caótica. Como talvez todos sejam. E eu quero aprender a me aceitar, exatamente como sou.

Estou cansada de ver dedos apontados para mim me dizendo como eu deveria ser. O que preciso mudar. De que maneira devo me comportar. Afinal, eu, mais do que ninguém, conheço meus defeitos. Mas a vontade de mudar deve partir de dentro da gente - e não vir de fora, tipo receita de bolo. Caso contrário, não produz resultado algum.

Cada qual sabe melhor o que traz felicidade e o que traz dor. Cada um sabe o preço a pagar por determinados comportamentos - e, se não sabe, a vida ensina.

Tenho certeza de que não vim a este mundo para ser a filha que a minha mãe espera; ou a companheira que minhas irmãs desejam; ou a parceira que minhas amigas sonham ter ao lado. Eu vim para me desvendar, me revirar do avesso - e a partir daí crescer, melhorar, mudar, aperfeiçoar, evoluir. Gostaria muito, nesta jornada, de ter caminhando comigo pessoas que me apoiam, que acreditam em mim, que respeitam/toleram o meu eu - e quero distância de quem me faz sentir pequena, pior, incapaz.

Mas, por mim, preciso prometer que não vou pagar qualquer preço por esse afeto. O que os outros pensam de mim não pode ser maior do que o que eu penso sobre a minha pessoa. Não quero aquele amor que diminui, aquele amor que julga, aquele amor que despreza.

Hoje, para mim, a grande lição da vida é aprender a me amar (e me respeitar) do jeitinho que sou. Não é me amar apesar dos defeitos, mas sim pelos defeitos. Que são meus, que representam uma parte importante desse incrível quebra-cabeças que sou eu. Quero ter orgulho de mim mesma e não mais sentir vergonha das minhas falhas.

segunda-feira, 5 de outubro de 2015

Primeiro encontro

Não estou aqui para ensiná-lo a se comportar no primeiro encontro. Ser mais ou menos extrovertido, abrir ou não a porta do carro, falar ou não de relacionamentos passados, abordar logo de cara temas indelicados (tipo: "sou estéril, sabia?")... Isso cabe a você decidir como proceder. E também não existe fórmula mágica de qual a melhor forma de agir, o que pode dar mais certo. Difícil saber o que cada mulher prefere ouvir, que cara ela espera encontrar por trás daquelas roupas, daquelas máscaras, daqueles medos...

Particularmente, acho sempre mais interessante quando um cara se comporta como ele é, porque aí não tem aquela coisa de cair do cavalo depois ao descobrir, por exemplo, que ele é machista, preguiçoso ou grosseiro.

Só tem uma coisa que pra mim é cláusula pétrea nos primeiros encontros: o homem pagar a conta.

Beleza, pode soltar os cachorros e me chamar de machista. Pode dizer que isso não faz diferença se a garota realmente curtir você. Que o mundo mudou e que as mulheres ganham às vezes mais do que os homens. Que faz parte do seu ser não pagar uma conta sequer e quem quiser que o ature.

Engole o choro, a desculpa esfarrapada, a filosofia barata e, velho, paga a primeira conta!

Está quebrado? Leva a gata para comer pastel. Foi ela na verdade quem o convidou para saírem juntos? Pague a conta. Ela já trabalha e você está na faculdade, tipo Eduardo e Mônica? Dane-se. Ainda assim você deve pagar a conta.

Não é obrigação sem fundamento. Não é papo machista. Não é pra dar o golpe e comer de graça. Não é coisa de gente folgada.

De uma vez por todas, entenda o seguinte: é delicadeza. É gentileza. Um ato fofo e admirável. Mostra cuidado, carinho, preocupação, cavalheirismo.

O encontro pode ter sido um fracasso, mas esse gesto certamente arrancará suspiros - ou, pelo menos, ela vai dar o braço a torcer de que você não é tão mau assim. Ele não passará em branco, acredite.

Sei lá. Vivemos uma vida toda policiada. O que é certo e o que é errado. Como cada um deve se comportar. O que esperar do outro. O que cada um quer ouvir. Como impressionar. Como fazer o outro se apaixonar por você. Tantas regras que perdemos a espontaneidade. Por trás de tantos discursos, tantas mudanças, do politicamente correto, ali estão um homem e uma mulher.

Isso me faz lembrar daquele filme Notting Hill. Tem uma cena em que a Julia Roberts, uma atriz podre de famosa, vai atrás do Hugh Grant, dono de uma livraria especializada em guias de viagem. Ela quer uma segunda chance. Ele resiste. Já se machucou antes. Dá para entender o cara e se solidarizar até. E aí ela diz: Lembre-se... Sou só uma garota, aqui diante de um garoto, pedindo para ser amada.

É isso. No fundo, somos garotas e garotos querendo ser amados. E pagar o primeiro jantar é um jeito lindo de derrubar as defesas do outro e de se abrir para o amor.

quarta-feira, 1 de abril de 2015

Não é charme. É desinteresse.

Ele mal ficou solteiro e já se diz farto das possíveis presas.

Superficiais. Feias. Interesseiras. Loucas.

Nenhuma é boa o suficiente.

A liberdade recém-adquirida ganha gosto de punição, de tragédia anunciada.

"Desse jeito, vou acabar voltando para a minha ex", desabafa.

A amiga dá colo e pede calma.

"Tem gente legal por aí. Minhas amigas, por exemplo".

Ele se anima.

Mas, desconfiado como é, logo acha que o discurso é fogo de palha.

Só que o estresse que resulta da solteirice é maior, e ele resolve dar uma chance às tais amigas.

Conhece uma delas.

E gosta.

No dia seguinte, parte para o ataque.

Pelo celular, manda um oi.

Vem a resposta.

O bate-papo dura uns três minutos.

(Silêncio)

Tchau. Até mais.

No dia seguinte, ela não entra em contato.

Ele acha estranho, afinal é um cara bonito, interessante, disputado.

E não consegue entender como alguém não cai de amores por ele instantaneamente.

Tudo bem.

Vai ver é tímida.

Oi, tudo bem?

Tudo. E você?

Tudo.

(Silêncio)

Beijo. Tchau.

A raiva toma conta dele.

"Mas quem ela pensa que é? Metida. Patricinha. Esnobe. Tá pensando que dá as cartas? Não comigo. Vai ter troco."

Ele some.

Uma semana se passa e nada dela.

"Vai ver morreu...", pensa.

Oi. Tudo bem?

Oi. Tudo. E você?

Tudo.

...

(É, morrer não morreu).

(Que vaca. Ela simplesmente não está correndo atrás de mim).

Então, vamos sair?

Não posso.

Você é muito ocupada. Eu diria que é seu principal defeito.

Nós mal nos conhecemos.

Não importa. É seu pior defeito e ponto final. E mais. Fiz uma lista com todas as suas falhas. É sempre bom conhecer o que os outros pensam da gente. Vou te passar a lista. Para que você seja uma pessoa melhor.

Que arrogante da sua parte.

...

Alguns dias depois...

(É a última chance dela. Já chega dessa palhaçada).

E aí? Vamos sair?

Não dá.

Você é muito chata.

Chata? Por quê?

Porque sim. Nunca tem tempo e sempre sou eu quem tem que entrar em contato.

...

Eu não vou ficar correndo atrás de você, entendeu? Sou um cara disputado!

Ok.

...


Mais alguns dias se passam...

Oi. Me diz uma coisa. Você quer arrumar um namorado?

Claro. Acho que todo mundo quer amar e se sentir amado.

Sei. Não parece. Você acha que vai encontrar alguém saindo para essas baladas mequetrefes que você frequenta?

Eu saio para dançar e aproveitar a vida. Não para arrumar namorado.

Pois você está fazendo tudo errado.

Certo.

E eu, como homem que sou, escolado, posso te ensinar como agir corretamente e arrumar alguém.

Sei.

Então... Quer namorar comigo?

quinta-feira, 19 de março de 2015

A noite é para os fortes

Oi. Seu nome, por acaso, é Bárbara?

Não.

Joana?

Não.

Tem certeza?

... (Sério. Nessas horas, a vontade é dar uma resposta MUITO tosca.)

E você é ruiva?

Sim.

Parece a Joana d'Arc.

...

Então, meu nome é Marcelo. E o seu?

Flávia.

Tá bom, Flávia. Se precisar de alguma coisa, eu e meus amigos estamos ali. Tchau.

sábado, 28 de fevereiro de 2015

Procura-se um amigo

A vida é feita de muitas fases.

E, no início da vida, parece que passamos por boa parte delas juntos.

Lembra das festinhas de quinze anos?

Então.

Como a gente costuma se relacionar com pessoas da mesma idade, de repente todo fim de semana tinha alguém comemorando a data.

E aí você passou um ou dois anos só indo a baladinhas assim.

Foi o mesmo com as formaturas no colégio.

A aprovação no vestibular.

Os dezoito anos, a carteira de motorista e o primeiro passo rumo à independência...

Só que, com o tempo, essas etapas da vida foram deixando de ser vividas coletivamente.

Isso ficou claro quando começaram a pipocar os primeiros casamentos.

Verdade que há uma época mais "florida", quando parece que todo mundo anda juntando os trapos.

Ainda assim, tem gente que casa com 23 anos; outros, com 40.

Com os filhos, o processo é ainda mais disperso.

E aí, de repente, você se dá conta de que aquele amigo com quem cresceu junto, comemorou aniversários, compartilhou os melhores e piores momentos, seguiu outro caminho.

O que não quer dizer que vocês deixaram de se falar.

Podem até ser mais próximos ou íntimos que antes.

Mas, como as experiências vão ficando cada dia mais individuais, em algum ponto vocês se distanciaram (nem que seja no tanto de tempo que têm pra vocês).

Eu me sinto assim.

Tenho amigos maravilhosos, mas quase nenhum vive o mesmo momento que eu.

Sou uma das poucas (nos vários grupos do qual faço parte) que ainda não casou e teve filhos.

Então, tenho muito tempo livre, para fazer o que quiser.

O que é mesmo ótimo, por um tempo.

Depois, vira um problemão - algo com o que você TEM que aprender a lidar (haja terapia).

Como sou um ser muito social, na falta de um companheiro e de um filho (ou sete), exijo mais dos amigos.

Ou exigiria.

Só que todo mundo está aí, vivendo sua vida.

E então você aprende a se virar (a não ser quando o assunto é sair para comer. Aí, não falta parceria).

Hoje, vou ao cinema sozinha sem pestanejar.

Encaro de boa um passeio de bicicleta na companhia do meu mp3.

Faço aula de dança com um monte de estranhos.

Aproveito a piscina do meu prédio (ou da casa dos meus pais) mesmo quando ninguém se junta a mim.

E até já viajei alone (mas foi difícil, confesso).

Mas e quando bate vontade de dançar? Fazer SUP? Sair pra paquerar? Tomar café da manhã naquele lugar recém-inaugurado?

Espero a vontade passar (ou o sono chegar. O que vier primeiro), com grande pesar no coração.

Aprendi a conviver com o fato de que Deus ainda não acha que está na hora de eu conhecer meu amor, mas não ter outro tipo de companhia para aproveitar certas coisas da vida que me fazem MUITO feliz parece cruel demais.

Já tentei novos amigos, novos grupos. Não funcionou.

Amizade ou empatia é uma coisa que acontece - não se força.

Resultado?

Tenho todo o tempo do mundo para fazer um monte de coisas incríveis, mas não tenho com quem viver várias dessas experiências maravilhosas.

Isn't it ironic?

Nada contra você, Alanis, mas não quero mais que sua música seja a trilha sonora dos meus dias.

terça-feira, 14 de outubro de 2014

A mulher por trás da fachada de concreto

Você acha que aprendeu muito.

Afinal, são mais de três décadas de convivência diária.

Claro que me conheço. Sim, sei bem quem sou e, principalmente, o que quero.

Jura?

Hoje, me olho no espelho e vejo dois reflexos: quem eu sou e quem as pessoas acham que sou.

O problema é que não gosto da imagem que têm de mim - e não dou um jeito de o meu verdadeiro eu assumir o controle.

Mas sei que sou única e exclusivamente responsável por isso.

É o medo que mora aqui dentro que construiu essa imagem que hoje me persegue.

Quando vejo, lá está ela dando as caras.

Toda folgada.

Até tento remediar.

O que que tem de mal? É só um jeitão descarado, espalhafatoso, mas completamente inofensivo.

Só que não é.

Caso contrário, não haveria ressaca no dia seguinte.

Choro contido.

Dor no estômago.

Coração em pedaços.

Uso o lado "ruim" para esconder minha fragilidade, mas aí me sinto ainda mais insegura, machucada.

Tenho medo de assumir meu verdadeiro eu (que vive soterrado aqui dentro).

De não ser amada por isso.

De "perder" certas oportunidades, amizades.

Mas que diabos de fingimento é esse que só traz falsos momentos de felicidade?

Que no fim fere, fere e fere?

O meu coração dá todos os sinais. Diz quando é hora de parar, insistentemente.

Mas eu não paro.

Me violo por medo de jogar a real comigo e com os outros.

Não sou tão engraçada. Não sou tão durona. Não sou tão desprendida e bem resolvida.

Sou frágil. Romântica. Brega. Carente. Sonhadora. Sincera demais.

Pre-ci-so assumir isso.

Pra ontem.

segunda-feira, 11 de agosto de 2014

As fracas não têm vez

O vestido é a vácuo. Tão, mas tão justo que não há a menor chance de comer usando ele. Ou beber. Qualquer coisa.

Ele também é tomara que caia. Mas não é qualquer tomara que caia. É aquele que deixa metade do peito de fora (começa na altura exata do bico).

A parte de trás é um corpete, com aquelas tiras entrelaçadas (o que antes era considerado roupa íntima para se usar em ocasiões especiais).

Não acabou.

Na parte de cima do vestido, ainda há um pedaço de renda, que deixa o máximo possível de carne à mostra. Em alguns casos, a renda fica entre os seios, deixando apenas 1/4 do peito encoberto. Ah. E ainda tem brilho marcando todo o trajeto do decote em V.

A parte de baixo é minúscula. Por isso, sentar está fora de cogitação. Quer dizer, até respirar fundo está fora de cogitação (só vale respiração cachorrinho, entrecortada).

Além do mais, a “saia” é torada. Mais do que colada ao corpo. E costuma ser branca – afinal, transparência nunca é demais.

Também tem renda, rasgos, aberturas.

São todas as “tendências” em uma roupa só.

É o famoso #tudojuntoagoramesmo.

Como se o visual das garotas também tivesse entrado na onda de "viver cada dia intensamente, como se fosse o último".

De dar tudo. Mostrar tudo. Revelar tudo.

Esse costumava ser o look da piriguete (mais ousada, confiante).

Hoje, ele toma conta da noite.

Virou chique. Must.

Os homens, claro, adoram.

É.

O mundo não é para as fracas.

sexta-feira, 1 de agosto de 2014

Lei do mínimo esforço

O objetivo é um só: manter as portas abertas.

Para quando eles quiserem voltar. Pra quando quiserem entrar.

E eles, normalmente, querem – ainda que de passagem.

E nós, normalmente, deixamos – mesmo ao saber que é de passagem.

Queria entender o porquê. Por que somos tão pacientes, compreensivas (e, por que não, bobas)? Por que damos tanto e aceitamos tão pouco em troca? Por que nos sujeitamos a certas situações?

Acho que tem a ver com essa coisa chamada sentimento (falta de amor próprio também é o caso. Ou medo de ficar pra titia).

É irremediável. Quando a gente gosta de um cara, aceitamos pouco. Muitas vezes, aceitamos quase nada. Pior. Muitas vezes aceitamos quase nada de um cara de que gostamos muito pouco.

Como pode isso?

Mesmo sem notícia alguma do ser, continuamos ali, firmes e fortes, disponíveis, intransponíveis. À espera de um whatsapp. De uma mensagem no face. De uma curtida no Instagram.

Aceitamos qualquer sinal. Qual-quer.

E mesmo quando a ficha cai e vemos que fomos enganadas (enroladas por dias, semanas, meses, à espera de algo que já se sabia que não viria), cometemos exatamente o mesmo erro com outro(s) – over and over.

Parece que nascemos para carregar essa cruz: perdoar quantas vezes for preciso os caras que nos enrolam (é, porque com os bonzinhos temos pavio curto).

Mas também devo dizer: esses caras são uns sacanas.

Pô, somos frágeis e demoramos a cair fora (por isso, por favor, diga com todas as letras que não quer mais, para que possamos dar continuidade às nossas vidas. E pare de ligar. Ou mandar mensagens quando está bêbado. Às três da madrugada).

E se aproveitar da fragilidade alheia é (deveria ser) crime.

A Fátima Bernardes abordou o tema em um dos seus programas. Colocou os convidados (homens) para listar as frases de efeito e outros “truques” usados para manter a mulherada à disposição deles. Eles contaram tudo. Às gargalhadas (aposto que não conseguem entender como caímos todas as vezes e não os mandamos pra aquele lugar).

Parece que ouvir a coisa assim, tão escancarada, dói mais. Sentimo-nos um tanto imbecis por acreditar no que dizem. Mas, fazer o quê? O que passou, passou. O negócio é não cair mais nessas armadilhas – e, quem sabe, rir da situação (ajuda muito, mas requer prática).

Por isso, montei uma lista com as “tentativas” mais preguiçosas de se manter uma mulher por perto (elas são tão ridículas que nem dá pra chamar de tentativa. Afinal, não há praticamente nenhum esforço envolvido, mas, enfim...).

O terceiro lugar do ranking do menor esforço vai para a mensagem: ‘Saudades’. É isso. O cara some, passa dias sem entrar em contato (às vezes, semanas, meses!) e, do nada, manda um ‘Saudades’. Ele não gastou nem três segundos para digitar essas letras e nem vai mandar mais nada (aposto que ele só copia e cola o termo de uma destinatária para outra). E você aí, se achando. Não deixe o coração se derreter por tão pouco. Se ele estiver mesmo com saudades, vai dar um jeito de provar.

O segundo lugar do ranking vai para a cutucada no Facebook. Sério. O cara nem se dispôs a digitar UMA PALAVRA SEQUER. Ele simplesmente deu um clique em um botão pré-existente. Mais fácil que coçar o saco. Que soltar um arroto. E você, bobinha, sentiu borboletas na barriga. É por isso que eu apoio a criação de um sistema real que dê uma tacada de bete na cabeça (pode ser no saco também) dos malandros cada vez que usarem o botão.

O primeiríssimo lugar vai para uma novidade. Nunca antes na história da humanidade eu tinha ouvido falar nessa “estratégia”. O cara manda um whatsapp. Mas não é uma mensagem de texto. Ele não sentou e bolou uma coisa legal pra dizer a você depois de 12 dias de sumiço – ainda sem explicação. Ele manda uma foto. Não dele. Nem de vocês juntos. Ele manda uma foto tosca, sem foco, sem filtro e mal enquadrada de um sanduíche. É, você leu direito. Sanduíche. Logo em seguida, chega um texto. Mas não é uma declaração. Nem um pedido de desculpas. Nem nada remotamente normal e razoável. Apenas a palavra ‘Chivito’. Ele perdeu tempo escrevendo o TIPO do sanduíche e não algo que pudesse interessar qualquer mulher com atividade cerebral minimamente regular.

E ainda dizem que NÓS, mulheres, somos exigentes.

* Nota de último minuto: o inútil do Chivito acabou de mandar um balão.