Foram duas semanas de insistência. Duas semanas tentando marcar um encontro. Finalmente, cedi. Afinal, vai que, né? Como acredito que vale a pena ceder quando a pessoa é decidida, quando mostra que sabe o que quer, topei o jantar. Não tinha um milhão de expectativas, mas esperava passar uma noite agradável.
Conhecemo-nos durante uma dança, em uma noite sertaneja, em uma boate cheia e animada. O início, ainda que sem beijos ou intimidade, foi legal. Despretensioso. Agora era a vez de ficar cara a cara em um ambiente totalmente diferente: claro, silencioso e sem álcool para “disfarçar” as imperfeições típicas dos encontros à noite.
O problema é que ele foi longe demais na escolha do lugar. Convidou-me não só para ir ao restaurante dele, algo já tenso, mas pior: um local que serve uma comida que eu amo – e que conheço bem. Saí de casa com a sensação de que ia passar a noite sendo testada!
Como previsto, a noite foi tensa. A cada prato pedido, ele me olhava profundamente em busca de frases positivas e afirmativas sobre a excelência do que havia sido servido, na expectativa de que eu referendasse sua decisão de apostar tanto dinheiro (suado) naquele restaurante, naquele tipo de comida.
Pior é que sou uma mentirosa de araque. Dava para ver na minha cara que não estava extasiada. Embora a comida não estivesse ruim, ficou longe de receber uma nota 10, de tomar o lugar da minha atual favorita. Mas, bem, tive que mentir e foi muito sofrido – ele, obviamente, percebeu que não morri de amores pelos pratos, o que só piorou a situação.
Tão constrangedor quanto ser avaliada ao provar cada prato foi ter que “dividir” o encontro com o irmão dele, também dono do restaurante. Ele ficava parado, bem do lado da nossa mesa, umas horas falando com o meu “par” sobre coisas deles, da família, como que ignorando minha presença, em outras, metia-se no nosso papo e ficava tentando me sacar, curioso para ver se eu ia liberar um beijo ou algo assim.
Não bastasse todo o constrangimento (fui até intimada a ir ao banheiro feminino, ainda que sem vontade, só para dizer a ele o que achava da decoração, segundo ele, alvo de elogios e suspiros por parte de todas as mulheres que um dia visitaram o local), rolou aquele momento desconfortável com a chegada da conta.
Olha, nada contra dividir os gastos, afinal, hoje, as mulheres, via de regra, têm emprego e grana, mas acho que pelo menos na primeira vez, no primeiro encontro, o cara deveria pagar. Não foi ele quem a convidou? Não foi ele quem insistiu horrores para sair contigo? Não foi ele quem queria que você fosse ao restaurante DELE, comer a comida que garante o sustento DELE? E você ainda precisa dividir a conta?
E o cara ainda ficou revoltado porque saiu de lá sem beijo.
sexta-feira, 26 de abril de 2013
Encontro às avessas
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