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quarta-feira, 21 de setembro de 2011

O Primeiro Fora

Sua mãe passou a vida inteira lhe dizendo o quanto você é uma princesa: linda, inteligente, amorosa, prendada, boa moça... Resumindo, um partidaço. Aliás, é só nisso que as mães pensam. Afinal, todas querem dormir o sono tranquilo merecido apenas por aquelas que criaram filhas desencalháveis e dignas de serem pedidas por algum homem que o valha – quem cria solteironas paga caro tanto no céu como no inferno: punição por interromper a sequência sagrada da procriação.

Além disso, a vida real lhe mostra que, bem, parece que sua mãe até que tem mesmo razão. Nas baladas, sempre tem alguém paquerando você. Na faculdade, dois carinhas já pediram você em namoro. Na rua, sua popularidade não é das piores (lembra aquela vez quando DOIS pedreiros assobiaram, ao mesmo tempo?).

Até que, um dia, aquela amiga alternativa demais para o seu gosto vem com uma ideia de girico (óbvio). Sabe aquele papo retrô de que mulher hoje não é mais submissa, ocupa postos importantíssimos no mercado de trabalho, faz o que qualquer homem faz, carrega tijolo, troca lâmpada, blá, blá, blá, caixinha de fósforo? Pois é, esse papo preguiça chegou aos relacionamentos.

E aí a tal da maconheira passa a noite tentando convencê-la de que, sim, você pode chegar naquele carinha lindo da balada. Sim, ele vai dar mole para você e ficar totalmente na sua. Ei, do que você tem medo? Você sempre foi uma mulher tão confiante... O único risco, ela lembra, o único risco mesmo, é se ele for gay – porque, para as mulheres, homem que nega fogo, beijo ou amasso só pode ser gay (ninguém considera a hipótese de que ele simplesmente acha você uma mukissa de peitos murchos e bunda chapada).

Depois de horas de convencimento, você começa a acreditar que, ei, quem sabe? Vai que realmente não existe mais aquele pensamento machista de que mulher que chega junto é barata ou absurdamente oferecida? Vai que os caras mudaram radicalmente e acham normal e até masculino ser cantado e escolhido a dedo por uma moça neandertal, ganhar menos e ficar por baixo do papai-mamãe, gemendo de tesão?

Eis que a coragem supera o terror e você chega nele. Afinal, você não é uma princesa à toa. Mas o cara olha você por cima do ombro, vira para os amigos e cai na risada. Você, uma moça de fé, fica ali, firme e forte, esperando eles se recomporem para se apresentar – em vez de simplesmente sair de lá com aquela cara de “hahaha, eu esbarro no cara e ele acha que estou é dando mole! Retardado!”!

Não. Você fica bem ali, parada. O cara continua tossindo de tanto rir; enquanto isso, você capricha no olhar 43 e mostra bem seus dentes realinhados após 10 anos de aparelho fixo. Até que, inevitavelmente, ele dá uma deixa e você solta: Oi, tudo bem? Meu nome é Cynthia. Cyn-thia com Y e TH. Faço faculdade. É, sou u-ni-ver-si-tá-ria. Chique, né? Tenho 18 anos, bem, 18 e 27 dias, rs. Já te falei que adoro viajar? Adoooooooorooooooo! Meus amigos dizem que sou sangue bom demais. Moro no Lago Sul, com meus pais. Sonho em casar bem mais tarde, aos 27, mas quero uma cerimônia simples, nada disso que rola hoje, superproduções over total, e, como não, ainda quero curtir muito a vida antes de me amarrar para sempre a um cara, punk isso, né? Ficar para sempre com alguém, acostumar com o cecê do cara... Ah, quero morar em Manhattan, nem que seja por um ano, só para conhecer, sabe, viver aquela vida a la Sex and The City, mas, nossa, Deus, não sou nada como a Samantha, pode ficar tranquilo, sou totalmente a Charlotte, talvez com alguma pitada de Carrie e um pouco do humor ácido da Miranda, quer dizer, o humor dela não é ácido, é meio tosco mesmo... esquece, apaga tudo, retiro o que disse, sou mesmo a Charlotte, só que melhorada, porque eu cozinho, limpo a casa, faço de tudo... Não seria perfeito ter gêmeos?

(Preciso de parênteses!!! Depois eles é que são sem noção! Honestamente, não sei o que é pior. Chegar dando a ficha completa e fornecendo detalhes impublicáveis sobre seus sonhos adolescentes ou agarrar pela cintura, dizer que está apaixonado e tentar roubar um beijo de língua antes mesmo de perguntar seu nome).

O cara olha para você, olha para os amigos e solta um arroto, bem na sua cara. Automaticamente, o grupo todo cai na gargalhada. Como assim? Ele nem sequer se deu ao trabalho de respondê-la, fazer qualquer comentário, sugerir qualquer programa para o fim de semana envolvendo vocês dois, um pacote de pipoca e mãos entrelaçadas e assanhadas?

Para tudo!!!! Tem algo errado aqui! Eu sou uma PRIN-CE-SA! PRIN-CE-SA! Minha mãe cansou de me dizer isso, sempre, todos os dias. E os caras da faculdade gostam de mim. Até querem me namorar! Você não pode estar me desprezando, não pode estar me dando um fora, não pode estar zombando de mim... (olha o mal do call center!)

Buáaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaa!

Você sai correndo para o banheiro, onde sua amiga cheia das ideias legais a encontra. Você não sabe se enche a menina de porrada, se joga da janela do banheiro ou pega suas coisas e vaza da balada, correndo, antes que o arrotador a veja. Até que você se lembra!!! Rapidamente, enxuga as lágrimas, engole o choro, lava o rosto, retoca a maquiagem. Quando sua amiga se prepara para perguntar o que houve para que você mudasse de ideia assim tão rápido, você solta: ELE É GAY! Bem que eu desconfiei. Muito bonitinho, arrumadinho, malhadinho, gostosinho... Gay, amiga, TOTALMENTE E ABSOLUTAMENTE GAY!

1 comentários:

Zethi disse...

hahahahaha! O approuch dela foi demais! "Adoro viajar." ahahahahaha!

Beijos, amor!

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